Eu não poderia contar nos dedos quantas histórias trágicas eu ouço envolvendo gravidez indesejada. Pais adolescentes, sexo-pós-balada que deu errado, garotas pobres e desinformadas que não sabem como se proteger, casais inconsequentes, e a lista continua, sem fim.
Todas essas coisas me levam a pensar que quando uma pessoa - em sã consciência - pensa em ter um filho, ela deve perguntar-se duas coisas: 1. Eu consigo? 2. Eu quero? Essas são questões fundamentais para levar em frente a maternidade. É lindo ver uma mulher grávida quando isso é exatamente o que ela quer. Quando ela e seu parceiro estão felizes e tem condições de dar um futuro digno para essa criança que está por vir.
São emocionantes as histórias da experiência transformadora que é tornar-se mãe. Acredito que seja um sentimento ímpar, renovador, que muda o seu jeito de ver a vida e que te torna mais generosa. Mas na mesma intensidade que acho maravilhoso querer ser e torna-se mãe, eu acho pavorosa a ideia de dar à luz a alguém que você não deseja; colocar no mundo uma criatura inocente que não pediu pra estar ali e que só precisa de amor e cuidado.
Cada uma tem seus motivos e ninguém deveria julgá-los certos ou errados. Seja por não sentir-se preparada, por ser muito nova, por não ter um parceiro, por dar prioridade a carreira, que seja. Não importa. Eu defendo completamente o poder inquestionável que cada mulher tem (ou deveria ter) sobre o seu corpo. "Não querer" deveria ser suficiente. Afinal, o que torna uma pessoa capaz de obrigá-la a tornar-se responsável por outro ser, pelo resto da sua vida, sem querer e/ou sem ter estruturas (sejam elas emocionais ou financeiras) para fazê-lo?
"Ter direito sobre o próprio corpo é um dos pilares da civilidade", disse um juiz francês quando soube - e ficou impressionado - que no Brasil as mulheres não podem interromper um processo gestacional se assim for sua vontade - e eu não poderia concordar mais. Segundo estudos científicos, se o aborto for seguro e realizado nas primeiras semanas, não há morte. Não é um assassinato. Não é tão cruel quanto condenar uma mulher obrigando-a a ter uma gravidez indesejada.
Adolescentes mutilam-se e envenenam-se na tentativa de interromper a gestação, assim como grávidas com pouquíssima condição financeira também o fazem. As mulheres estão morrendo pelo simples fato de não ter poder sobre o seu próprio corpo.















